A Cultura da Irresponsabilidade by @silviamarques
Charge by Ique®
Onde está a raiz dos males do paÃÂs? Por que as leis continuam vagas, falhas e pÃÂfias? Por que a “escola da vida” forma cada vez mais delinquentes? Por que a polÃÂtica nesse paÃÂs se torna cada vez mais repulsiva quando deveria ser enaltecida? Por quê? Por quê? Por quê?
Novamente, claro que com todo aval de Silvia Marques, reproduzo mais um texto seu que não merece ficar limitado apenas ao TwitLonger, onde ela divaga com maestria sobre esse cÃÂrculo vicioso e endêmico em que tudo tende acabar em pizza…
…. Já há algum tempo, venho me sentindo indignada com a onda de criminosos caras de pau que estamos vendo no Brasil. Desde polÃÂticos corruptos a assassinos brutais, o Modus Operandi atualmente não se limita ao crime, mas inclui também tripudiar a sociedade e subestimar a inteligência de um paÃÂs inteiro. Dinheiro público em malas, meias, cuecas e gavetas, e os responsáveis nada sabem, nada viram, desconhecem os fatos. Sobra sempre para meia dúzia de testas de ferro, que, diga-se de passagem, são muito bem-recompensados para se submeter a esse papel, e tudo bem, todo um paÃÂs é feito de idiota, nosso QI é reduzido a um dÃÂgito e a maioria de nós aceita passivamente, dando razão para os que consideram o povo imbecil.
Basta dizer “eu não sabia”, desafiando a lógica e o bom senso, e todos os fatos são magicamente transformados em intriga da oposição, complô da imprensa ou algo que o valha. O pior é ver pessoas esclarecidas, inteligentes e educadas acreditando nesses contos de fadas em que mocinhos são traÃÂdos por bandidos malvados no gabinete ao lado sem desconfiarem de nada. O brasileiro precisa deixar de pensar com a emoção, com a ideologia, e recorrer àrazão, pensar logicamente sobre as chances da maior autoridade de um gabinete ter ou não controle das ações de seus subordinados e de estar ou não envolvida nessas ações.
Aàtemos a outra categoria de cara de pau: Os criminosos sanguinários que desafiam todas as leis, inclusive as da fÃÂsica. Não basta matar a vÃÂtima, é preciso também assassinar a alma de seus familiares e subestimar a capacidade de raciocÃÂnio de todo um paÃÂs. No EdifÃÂcio London, onde foi tirada a vida de Isabella, entrou um hÃÂbrido de The Flash e Homem InvisÃÂvel, que, em questão de segundos, atirou a criança pela janela e saiu sem ser visto por ninguém. Eliza Samúdio fugiu para a Colômbia e todas as evidências, inclusive registros telefônicos e de GPS, são meras coincidências. Uma prostituta voadora adentrou o carro de Mizael Bispo em movimento. Nenhum dos suspeitos ou condenados tem a vergonha na cara de admitir que a casa caiu e tomar a única atitude digna: Confessar o crime e dar paz às famÃÂlias, que precisam de um desfecho.
Cada vez que lemos os jornais, ficamos mais e mais abismados com a criatividade para criar versões fantásticas para justificar o injustificável. E parece até que nossa obrigação é aceitar esses pretextos, passar a mão na cabeça dos culpados. Pensando sobre o tema, concluàque a raÃÂz disso tudo está na forma como a educação no Brasil é permissiva, os pais acobertam os filhos ao invés de corrigir seus erros. Quando uma criança vai mal na escola ou briga com um colega, a culpa sempre é do colega, do professor, do diretor do colégio. Não é raro ver pais e mães fazendo escândalos para exigir que os erros de seus filhos sejam apagados: “Meu filho reprovou o ano? Não reprovou, não! Eu conheço o dono deste colégio, vocês vão todos para a rua!”
Quando o filho é pequeno, “é coisa de criança”. Quando cresce um pouco, “adolescente é assim mesmo”. Mas e quando vira adulto e joga uma criança pela janela, manda aniquilar a Maria-Chuteira inconveniente ou atira o carro da namorada na represa? Aào judiciário, a imprensa e a sociedade é que são pressionados a deixar para lá. A imagem de Antonio Nardoni defendendo o filho do indefensável será sempre emblemática. Pais como ele poderiam escrever um manual: “Como manipular o sistema ao meu favor e não me responsabilizar pelos meus erros”. É a cultura da irresponsabilidade
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